MISTÉRIOS LUMINOSOS


Durante mais de 4 séculos, os católicos de todo o mundo rezaram o rosário segundo a definição feita em 1569 pelo Papa Pio V. Por ocasião do início do 25.o ano de pontificado do Papa João Paulo II, o Santo Padre deu a conhecer sua “Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae”, datada de 16 de outubro de 2002, na qual propôs o período de outubro de 2002 a outubro de 2003 como Ano do Rosário.
Nessa Carta Apostólica, João Paulo II promoveu uma alteração no reza do rosário, instituindo mais um grupo de mistérios a serem meditados — os Mistérios da Luz ou Mistérios Luminosos.
Os textos que compõem este pequeno volume organizado por nós foram escritos anteriormente à publicação da Carta do Santo Padre, portanto, não contemplam em suas linhas os Mistérios Luminosos. No entanto, nem por isso perdem o seu valor.
Apresentamos, a seguir, a cópia fiel de alguns parágrafos da Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae, com o intuito de complementar aqueles textos apresentados aqui e esclarecer aos católicos os motivos da inserção desse novo grupo de mistérios a serem contemplados na reza do Rosário.

“UMA INSERÇÃO OPORTUNA

19. De tantos mistérios da vida de Cristo, o Rosário, tal como se consolidou na prática mais comum confirmada pela autoridade eclesial, aponta para alguns. Tal seleção foi ditada pela estruturação originária desta oração, que adotou o número 150 como o dos Salmos.
Considero, no entanto, que, para reforçar o espessor cristológico do Rosário, seja oportuna a inserção que, embora deixada à livre valorização de cada pessoa e das comunidades, lhes permita abraçar também os mistérios da vida pública de Cristo entre o Batismo e a Paixão. Com efeito, é no âmbito destes mistérios que contemplamos aspectos importantes da pessoa de Cristo, como revelador definitivo de Deus. É ele que, declarado Filho dileto do Pai no Batismo do Jordão, anuncia a vinda do Reino, testemunha-a com as obras e proclama as suas exigências. É nos anos da vida pública que o mistério de Cristo se mostra de forma especial como mistério de luz: “Enquanto estou no mundo, sou a Luz do mundo” (Jo 9,5).
Para que o Rosário possa considerar-se mais plenamente “compêndio do Evangelho”, é conveniente que, depois de recordar a encarnação e a vida oculta de Cristo (mistérios da alegria), e antes de se deter nos sofrimentos da paixão (mistérios da dor), e no triunfo da ressurreição (mistérios da glória), a meditação se concentre também sobre alguns momentos particularmente significativos da vida pública (mistérios da luz). Esta inserção de novos mistérios, sem prejudicar nenhum aspecto essencial do esquema tradicional desta oração, visa fazê-la viver com renovado interesse na espiritualidade cristã, como verdadeira introdução na profundidade do Coração de Cristo, abismo de alegria e de luz, de dor e de glória.

MISTÉRIOS DA LUZ

21. Passando da infância e da vida de Nazaré à vida pública de Jesus, a contemplação leva-nos aos mistérios que se podem chamar, por especial título, “mistérios da luz”. Na verdade, todo mistério de Cristo é luz. Ele é a “luz do mundo” (Jo 8,12). Mas esta dimensão emerge particularmente nos anos da vida pública, quando Ele anuncia o evangelho do Reino. Querendo indicar à comunidade cristã cinco momentos significativos — mistérios luminosos — desta fase da vida de Cristo, considero que se podem justamente individuar: 1.o no seu batismo no Jordão, 2.o na sua auto-revelação nas bodas de Caná, 3.o no seu anúncio do Reino de Deus com o convite à conversão, 4.o na sua Transfiguração e, enfim, 5.o na instituição da Eucaristia, expressão sacramental do mistério pascal.
Cada um destes mistérios é revelação do Reino divino já personificado no mesmo Jesus. Primeiramente é mistério de luz o batismo no Jordão. Aqui, enquanto Cristo desce à água do rio, como inocente que Se faz pecado por nós (cf. 2Cor 5,21), o céu abre-se e a voz do Pai proclama-O Filho dileto (cf. Mt 3,17 par.), ao mesmo tempo em que o Espírito vem sobre Ele para investi-Lo na missão que O espera. Mistério de luz é o início dos sinais em Cana (cf. Jo 2,1-12), quando Cristo, transformando a água em vinho, abre à fé o coração dos discípulos graças à intervenção de Maria, a primeira entre os crentes. Mistério de luz é a pregação com a qual Jesus anuncia o advento do Reino de Deus e convida à conversão (cf. Mc 1,15), perdoando os pecados de quem a Ele se dirige com humilde confiança (cf. Mc 2,3-13; Lc 7,47-48), início do mistério da misericórdia que Ele prosseguirá exercendo até ao fim do mundo, especialmente através do sacramento da Reconciliação confiado à sua Igreja (cf. Jo 20,22-23). Mistério de luz por excelência é a Transfiguração que, segundo a tradição, se deu no monte Tabor. A glória da Divindade reluz no rosto de Cristo, enquanto o Pai O acredita aos apóstolos extasiados para que O “escutem” (cf. Lc 9,35 par.) e se disponham a viver com Ele o momento doloroso da Paixão, a fim de chegarem com ele à glória da Ressurreição e a uma vida transfigurada pelo Espírito Santo. Mistério de luz é, enfim, a instituição da Eucaristia, na qual Cristo se faz alimento com seu Corpo e o seu Sangue sob os sinais do pão e do vinho, testemunhando “até ao extremo” o seu amor pela humanidade (Jo 13,1), por cuja salvação se oferecerá em sacrifício.
Neste mistérios, à exceção de Caná, a presença de Maria fica em segundo plano. Os Evangelhos mencionam apenas alguma presença ocasional d’Ela no tempo da pregação de Jesus (cf. Mc 3,31-35; Jo 2,12) e nada dizem de uma eventual presença no Cenáculo durante a instituição da Eucaristia. Mas, a função que desempenha em Cana acompanha, de algum modo, todo o caminho de Cristo. A revelação, que no Batismo do Jordão é oferecida diretamente pelo Pai e confirmada pelo Batista, está na sua boca em Caná, e torna-se a grande advertência materna que Ela dirige à Igreja de todos os tempos: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,5). Advertência esta que introduz bem as palavras e os sinais de Cristo durante a vida pública, constituindo o fundo mariano de todos os “mistérios da luz”.

43. (...) No início do vigésimo quinto ano de Pontificado, entrego esta Carta Apostólica nas mãos sapientes da Virgem Maria, prostrando-me em espírito diante da sua imagem venerada no Santuário esplêndido que lhe edificou o Beato Bártolo Longo, apóstolo do Rosário. De bom grado, faço minhas as comoventes palavras com que ele conclui a célebre Súplica à Rainha do Santo Rosário: “Ó Rosário bendito de Maria, doce cadeia que nos prende a Deus, vínculo de amor que nos une aos Anjos, torre de salvação contra os assaltos do inferno, porto seguro no naufrágio geral, não te deixaremos nunca mais. Serás o nosso conforto na hora da agonia. Seja para ti o último beijo da vida que se apaga. E a última palavra de nossos lábios há-de ser o vosso nome suave, ó Rainha do Rosário de Pompéia, ó nossa Mãe querida, ó Refúgio dos pecadores, ó Soberana consoladora dos tristes. Sede bendita em todo o lado, hoje e sempre, na terra e no céu”.

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