MISTÉRIOS JUBILOSOS

(este texto foi escrito poucos anos antes do Papa João Paulo II introduzir os Mistérios Luminosos no Rosário)
O Rosário é uma forma tradicional da espiritualidade cristã.
Recitando dezenas de Ave-Marias, meditamos, ao mesmo tempo, sobre a vida de Jesus. O próprio terço, na sua forma material, é simbólico: ele forma um círculo, uma coroa ou colar de contas. A saída do círculo coincide com a chegada. Lembramos o que disse Jesus: “Saí do Pai e entrei no mundo, agora deixo o mundo e volto ao Pai” (Jo 16,28). Jesus veio dar uma volta pelo mundo: saiu do Pai e voltou para o Pai. Assim se tornou nosso modelo, pois todos nós saímos das mãos do Pai e teremos de voltar à casa do Pai. Jesus pode dizer a cada um de nós: “vem e segue-me” (Mt 19,21), “Eu sou o caminho” (Jo 14,8).
Rezando o terço, vamos acompanhar, meditativamente, a volta que Jesus deu pelo mundo. Ele, “o autor e consumador da fé” (Hb 12,2), nos ensina a desfiar as contas da vida - todos os dias e seus acontecimentos - mantendo-as unidas pelo fio da fé. Sem fé, os nossos dias formam um amontoado de contas perdidas no chão, como acontece com as contas do terço, quando se rompe o fio que as mantém unidas.
Tradicionalmente, através do rosário, acompanhamos, em três voltas, a vida de Jesus. Na primeira volta - mistérios gozosos - meditamos sobre a infância de Jesus, conduzidos pela mão de nossa Mãe Maria Santíssima. Na segunda volta - mistérios dolorosos - acompanhamos a paixão e morte de Jesus. Na terceira volta - mistérios gloriosos - acompanhamos a Ressurreição e vitória final de Jesus.
Acontece que fica ausente uma fase importante da vida de Jesus: a sua vida pública, toda ela marcada pela ação missionária. Jesus é “o primeiro e maior evangelizador” (Evangelii Nuntiandi no 7). Jesus mesmo resumiu a sua vinda ao mundo nesta palavra: “Eu devo anunciar a boa nova do Reino, pois é para isso que fui enviado” (Lc 4,43).
Sugiro, pois, que acrescentemos ao Rosário uma quarta volta: os mistérios jubilosos, onde acompanhamos a vida missionária de Jesus. Fortalecendo a nossa ação evangelizadora nesta ação missionária de Jesus, podemos reanimar o nosso ardor missionário para a grande tarefa, de uma nova Evangelização.

MISTÉRIOS JUBILOSOS

1o MISTÉRIO
Neste mistério consideramos a teofania do Jordão. Jesus, batizado, estando em oração, viu o céu aberto; o Espírito Santo desceu sobre ele e o Pai o proclamou publicamente seu Filho muito amado (Mt 3,13-17; Mc 1,9-10; Lc 3,21-22). Jesus exultou de alegria e disse: ”Eu te louvo, ó Pai” (Lc 10,21).

2o MISTÉRIO
Neste mistério consideramos as bodas de Caná. Uma festa ia acabar em tristeza. Nossa Senhora interveio. A seu pedido, Jesus transformou água em vinho; a alegria voltou abundante. Jesus fez ali o seu primeiro sinal, mostrou seu poder de evangelizar e os discípulos acreditaram nele (Jo 2,1-11).

3o MISTÉRIO
Neste mistério consideramos o ardor missionário de Jesus. No júbilo de ter encontrado o tesouro escondido - o Reino -, largou tudo: casa, mãe, carpintaria, para consagrar-se totalmente à missão evangelizadora (Mt 12,44).

4o MISTÉRIO
Neste mistério consideramos a ação libertadora e salvadora de Jesus: cegos recuperam a vista, coxos começam a andar, leprosos foram curados e aos pobres foi anunciada a boa nova (Lc 7,22). O povo, maravilhado e alegre, acorria a Jesus e toda a multidão procurava tocá-lo, porque dele saía uma força que curava a todos (Lc 6,18-19).

5o MISTÉRIO
Neste mistério consideramos a opção preferencial de Jesus. Os marginalizados da sociedade (crianças, mulheres, pastores, publicanos) são os preferidos da ação missionária. Ele recebia os pecadores e comia com eles (Lc 15,1-2). Publicanos e prostitutas se rejubilavam porque podiam entrar no Reino antes dos fariseus e escribas (Mt 21,31).

E no céu havia maior alegria por um só pecador que se convertia do que por 99 justos (Lc 15,7).
E você... já rezou seu terço hoje?


(Dom Frei Valfredo B. Tepe - Bispo emérito de Ilhéus - BA)

Nenhum comentário: